domingo, 11 de março de 2012

Hino da natureza


“Bom dia, seu dotô,
Cuma vai?
Escute o que vou falar
Eu sou aquele matuto
Da Serra do Jatobá
Todo dia bem cedinho
Junto com os passarinhos
Tamo aqui pra lhe acordar
Vá tomando seu café
Dê um cheiro na mulher
Ligue o rádio pra escutar
É só poesia matuta
Que tem gosto de fruta
E de fulô do trapiá
E cheiro dessas morenas
Quando voltam das novenas
Numa noite de luar

Bom dia, amigos.
Estamos começando mais programa Poetas do meu sertão e hoje...”

É assim que Antônio Vicelmo inicia o programa Poetas do meu sertão, outrora conduzido por Eloi Teles, na Rádio Educadora do Cariri. E é junto com os passarinhos mesmo, pois o canto destas criaturas acompanha todo o programa em fundo musical. Foi por causa deles que lembrei dessa poesia, a qual lamento não saber o autor. Hoje acordei e escutei os cantos de diferentes passarinhos. Eles estão cantando até agora. E esse hino da natureza me faz lembrar do sertão, me faz lembrar essa poesia, uma música que adoro, a casa de meus pais.

Um pedacinho da Chapada do Araripe que pode ser visto desde o alpendre da casa dos meus pais

A casa fica num sítio no pé da Chapada do Araripe (vista na foto acima), no município de Crato, a 540km da capital cearense. É uma casa alpendrada que pode ser avistada desde a estrada que leva ao Clube Recreativo Grangeiro. Mainha sempre gostou de enfeitar. Agora passou a enfeitar dentro e fora da casa também. Painho também gosta de enfeitar, mas com enfeites diferentes. Quando comprou o terreno, ele o enfeitou com pés de manga, pitanga, acerola, banana, laranja, pau d’arco (talvez você o conheça como ipê), seriguela e toda sorte de árvore.

Enfeites de mainha
Filho de agricultor, painho é bastante ligado à natureza. Pra atrair os passarinhos, ele montou uma tábua pregada em outras duas, que lhe serviam de base, e em cima da tábua que estava na horizontal costumava colocar um pedaço de mamão e algumas bananas. Era pertinho da casa, há poucos metros. O suficiente para que os passarinhos avaliassem a distância como segura e fossem até lá se alimentar, “beliscar” um pouquinho daquelas frutas, como dizemos aqui no Ceará.

Enfeites de painho
E tinha um passarinho azul, lindo. Um mais esverdeado, um cor-de-árvore. As lavandeiras não comiam ali. Eu as via perambulando na grama. É fácil reconhecê-las porque são brancas e têm uma coloração vermelha na cabeça. Pra falar a verdade, é um dos poucos pássaros que vejo e sei o nome. Mas, melhor ainda que admirar aquele espetáculo, era prestar atenção no cantar do bem-te-vi, do canário e de tantas outros. O canto dos passarinhos é mesmo um hino da natureza. É como o barulho das águas: acalma e relaxa. Desestressa qualquer ser humano.

Não tenho foto de passarinhos no sítio. No meu arquivo pessoal, achei apenas a foto com essa galinha.  Ela ilustra bem o alpendre e a vida no sítio, com animais e plantas sempre por perto
Terminei o texto, o sol se levantou um pouco. São quase 10h da manhã. O som dos passarinhos foi substituído pelo alarme de um carro que soa ao longe, os ruídos das arrancadas dos aceleradores dos veículos que passam por aqui e outros barulhos urbanos, como freios e buzinas. Só pode o matuto-sertanejo nunca se acostumar com essa vida de cidade grande, como bem descrito na música Lamento sertanejo.

Contrastando com as fotos anteriores, esta é a vista da minha janela, aqui em Fortaleza