No meio do trabalho, no final do ano passado, uma vontade de escrever. Fui à bolsa atrás de caneta e papel. Cadê o meu caderno? Ah, vai na última página mesmo. O resultado taí:
"Hoje queria patativar, ver versos brotarem dos botões de flor e de uma gota de orvalho remanescente que só agora cai. Acertou bem na cabeça do sanhaço, que se sacudiu e seguiu sua marcha.
Queria o sertão, o mato, a zuada da chuva, o sorriso agradecido do matuto porque Deus lhe ouviu as preces. E ele olhando, da janela, a água banhar seu terreno, sua casa, os pés de planta..."
Daí alguém me interrompeu pra perguntar algo e voltei à realidade. Ficou sem final. Mas certamente aquela chuva abençoada também lavou a alma do sertanejo, como eu espero que aconteça agora, nestes tempos de seca. E quando eu disse que queria patativar, é porque queria fazer como o poeta descreveu nesse trecho de Cante lá que eu canto cá:
Canto as fulô e os abróio
Com todas coisa daqui:
Pra toda parte que eu óio
Vejo um verso se bulí.
Se as vêz andando no vale
Atrás de curá meus male
Quero repará pra serra
Assim que eu óio pra cima,
Vejo um divule de rima
Caindo inriba da terra