domingo, 15 de abril de 2012

Tente mais uma vez


Pelotão feminino da CIA especial (3º ano) no desfile do Sete de setembro de 2007. Eu sou a porta-símbolo, a única mulher de calça nesse agrupamento. Foto: Capitão Aleixo









Hoje lembrei de um texto/poema que li pela primeira vez em 1999 ou 2000, no Impacto, o cursinho preparatório para o exame de admissão ao Colégio Militar de Fortaleza (CMF). O texto foi entregue pelo coordenador do curso, Álvaro Amorim. De formação, Álvaro é advogado, mas ele nasceu para ensinar. Além de coordenador, era também o professor de português. Se hoje sou revisora ortográfica é porque amo e prezo muito pela Língua Portuguesa. Se amo essa Língua, ele tem bastante influência nisso. Ele me fez ver tudo  de maneira fácil. Regras de acentuação gráfica, conjunções, interpretação de texto. Eu via lógica em tudo aquilo e ficava fascinada por entender o modo como a Língua funcionava. Até hoje conservo sérias críticas à minha querida (sem ironia!) e amada Língua, mas admiro-a mesmo assim. Fico pra infartar quando vejo "aqui", "ali" ou "caju" com acento (aquí, alí, cajú), quando leio carangueijo, cabeileireiro ou cabelereiro (o certo é  caranguejo e cabeleireiro). Álvaro me fez compreender que cabeleireiro vem de cabeLEIRA (que tem i). Daí é só acrescentar o sufixo -eiro e fim de dúvidas. Foi ele quem me disse, num momento meu de impaciência em alguma aula, que "paciência é uma virtude". Levo a lição pra toda a vida. E olhe que eu tinha 10, 11 anos. Eu realmente aprendi, aprendi de cor e salteado. Expressão que, segundo ele, quer dizer "aprendi de coração" (do latim). Isso que é aprender.

Dedicado a mainha, transcrevo abaixo - de memória -, o texto/poema que Álvaro nos entregou e que carrego como lição até hoje:

Coragem e perseverança
TENTE MAIS UMA VEZ

Eis aqui um bom conselho a se seguir:
Tente mais uma vez
E verá sua coragem aparecer
Nunca tema
Não há nada que temer
Persevere e verá que vai vencer
Tente mais uma vez

E quer saber? EU POSSO e sempre vou tentar mais uma vez. Sugiro que você, leitor, faça o mesmo. Afinal, você é capaz! ;) Mainha, um abraço com muita saudade da filha que muito te ama.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

[Conto] O estranho da chuva


Chovia, mas não muito. Apenas o suficiente para que fosse necessário sair de guarda-chuva. Fosse por conta da chuva ou não, ela estava incomodada. Por quê? Nem ela sabia. Porque os pais haviam viajado, porque o cachorro estava quieto demais, porque não brotava uma boa ideia para começar a redação, porque chovia talvez. Fosse, como fosse, algo a incomodava. Para despistar aquela sensação ela pegou seu violino e tocou algo de memória. Algo, na verdade, remete a uma das primeiras canções que ela aprendeu a tocar nesse instrumento. Nesse, porque também manejava bem a flauta transversal.

Tocando, até se esqueceu da chuva. Absorta pelas notas graves que saíam de seu instrumento, demorou a ouvir que alguém batia à porta. Quando se deu conta, deixou o violino na cadeira e se dirigiu à entrada da casa. Era um homem. Sem guarda-chuva, jovem e com cara de cachorro com fome. Hesitou, mas abriu a porta.


- Oi. Desculpe lhe incomodar. É que a chuva está muito forte e como não trouxe guarda-chuva queria saber se posso me abrigar aqui, porque eu estava...


Ela o observava enquanto ele falava. Mas quem é esse homem? E ele quer entrar na minha casa? Muito estranho. Mas mais estranho ainda é que eu vou com a cara dele. Não sei... Hesitou novamente, mas deixou que entrasse. Por algum motivo alheio às explicações racionais, ela julgou que poderia confiar momentaneamente nele. Deu-lhe toalha, roupas secas e até um café fez para o rapaz. Não deixou que ele saísse da sala, afinal, é necessário confiar desconfiando.


Na sala, ele muito falante. Ela muito atenta. Sentados, conversando, ele com a xícara de café nas mãos, ela com as mãos vazias. Quanto tempo havia passado? Não sabia. Talvez três minutos, talvez três horas. Relanceou o relógio. Não. Deixara-o na pia do banheiro. Voltou-se para ele e também voltou a ouvir a chuva. Foi então que se deu conta que a inquietação havia passado.


Música: now or never.
Pode ser ouvida clicando aqui.
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Curiosamente começou a chover nesse exato momento na vida real, quando eu fazia os últimos ajustes no textos. Só acho difícil alguém aparecer na porta do meu apartamento, ainda mais a essa hora.