quarta-feira, 11 de abril de 2012

[Conto] O estranho da chuva


Chovia, mas não muito. Apenas o suficiente para que fosse necessário sair de guarda-chuva. Fosse por conta da chuva ou não, ela estava incomodada. Por quê? Nem ela sabia. Porque os pais haviam viajado, porque o cachorro estava quieto demais, porque não brotava uma boa ideia para começar a redação, porque chovia talvez. Fosse, como fosse, algo a incomodava. Para despistar aquela sensação ela pegou seu violino e tocou algo de memória. Algo, na verdade, remete a uma das primeiras canções que ela aprendeu a tocar nesse instrumento. Nesse, porque também manejava bem a flauta transversal.

Tocando, até se esqueceu da chuva. Absorta pelas notas graves que saíam de seu instrumento, demorou a ouvir que alguém batia à porta. Quando se deu conta, deixou o violino na cadeira e se dirigiu à entrada da casa. Era um homem. Sem guarda-chuva, jovem e com cara de cachorro com fome. Hesitou, mas abriu a porta.


- Oi. Desculpe lhe incomodar. É que a chuva está muito forte e como não trouxe guarda-chuva queria saber se posso me abrigar aqui, porque eu estava...


Ela o observava enquanto ele falava. Mas quem é esse homem? E ele quer entrar na minha casa? Muito estranho. Mas mais estranho ainda é que eu vou com a cara dele. Não sei... Hesitou novamente, mas deixou que entrasse. Por algum motivo alheio às explicações racionais, ela julgou que poderia confiar momentaneamente nele. Deu-lhe toalha, roupas secas e até um café fez para o rapaz. Não deixou que ele saísse da sala, afinal, é necessário confiar desconfiando.


Na sala, ele muito falante. Ela muito atenta. Sentados, conversando, ele com a xícara de café nas mãos, ela com as mãos vazias. Quanto tempo havia passado? Não sabia. Talvez três minutos, talvez três horas. Relanceou o relógio. Não. Deixara-o na pia do banheiro. Voltou-se para ele e também voltou a ouvir a chuva. Foi então que se deu conta que a inquietação havia passado.


Música: now or never.
Pode ser ouvida clicando aqui.
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Curiosamente começou a chover nesse exato momento na vida real, quando eu fazia os últimos ajustes no textos. Só acho difícil alguém aparecer na porta do meu apartamento, ainda mais a essa hora.

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